O Retrato Como Avatar
Dorian Gray Às Avessas
Na obra-prima literária de Oscar Wilde, um pacto infernal transfere a uma pintura, todos os aspectos sombrios de Dorian, que permanece ilibado ao olhos do mundo.
Neste artigo, o Artista Plástico e Psicanalista Henrique Vieira Filho propõe inverter a premissa e criar um retrato que desperte o potencial oculto do indivíduo.
Não raro, a aquisição de obras de Arte considera o retorno como investimento financeiro, a repercussão sócio-cultural e o benefício de ser um patrimônio que se aprecia e usufrui, enquanto valoriza.
Recentemente, um novo valor se soma e que só pode ser quantificado e qualificado pela própria pessoa: vivenciar a experiência criativa, de tal forma que a Arte reflita parte de si mesmo.
O indivíduo se torna, simultaneamente, um autor, musa e criatura estampada na tela, a qual, ainda que à vista de todos, igualmente “oculta” significantes que só a própria pessoa retratada reconhece.
Enquanto o retrato de Dorian Gray oculta o que este nega em si mesmo, a experiência de Arte, aqui proposta, revela à consciência emoções, desejos e anseios da alma.
De certo que nada supera uma pintura pensada exclusivamente para você e com sua participação direta no processo criativo. Outrossim, há outros caminhos mais acessíveis de vivenciar, ao menos em parte, esta incrível experiência de autoconhecimento!
As imagens acima ilustram Artes que nascem de agradáveis e profundas interações, entre o Artista e a pessoa retratada que participa diretamente do processo criativo.
São observadas as características de personalidade, as raízes culturais, o momento pessoal e profissional, além das preferências de cores e texturas e as referências mitológicas com as quais se identificam e todos os demais aspectos relevantes que a conversação evidenciar.
Enquanto o valor intrínseco de uma obra artística considera o mercado, a qualidade técnica, o autor e a galeria (dentre outros aspectos mensuráveis…), as telas que nascem da Art Experience agregam significado emocional e único ao retrato. Para os apreciadores de Arte, tais pinturas são percebidas estética e tecnicamente, enquanto para a pessoa retratada, que vivenciou o processo criativo, seu significado é imensurável!
Todo o processo, por si, já é terapêutico, ampliando a criatividade e propiciando descobertas sobre si, pois os símbolos arquetípicos incorporados à Arte reverberam diretamente ao inconsciente: cada vez que olhar a tela, toda a qualidade da experiência é reativada.
Pode-se ir além do caráter terapêutico, incorporando à Terapia, ou seja, o efeito sendo catalisado em sessões coordenadas por um Arteterapeuta/Psicoterapeuta.
Profissionalmente, atua de ambas as formas: sou procurado tanto por aqueles que desejam vivenciar a Art Experience por si só, quanto por quem deseja sessões continuadas de Terapia Holística.
Até mesmo nas Exposições em que participo como Artista Plástico, sempre que possível, aplico a filosofia Slow Art: a apreciação íntima da Arte gera profundas emoções em cada visitante!
Cada participante torna-se curador da exposição: em grupos de no máximo seis integrantes, em dia e horário pré-agendados, podiam olhar e tocar em todas as telas e escolher as que desejavam apreciar com maior profundidade.
Selecionadas as obras, estas são expostas e apreciadas por cinco a dez minutos (versus a média de dez segundos por obra em exposições convencionais…) e, não raro, o participante escolhe uma para fazer uma vivência terapêutica: ao som de música suave, relaxando em uma cadeira shiatsu, meditavam e deixavam a imaginação fluir, enquanto admiravam mais profundamente a Arte.
Sendo também Psicanalista, aprecio ainda mais as projeções emocionais dos participantes sobre cada obra, comumente seguida de insights sobre seus próprios momentos de vida!
Ainda que muito se foque nas Artes Plásticas, quando se disserta sobre Arteterapia, é bom pontuarmos que muitos outros recursos artísticos são utilizados, tanto terapeuticamente (no dia-a-dia…), quanto de forma profissional, em sessões de Terapia..
Com a popularização das câmeras digitais (e até as integradas nos celulares…), a Fotografia é um recurso que vem conquistando os consultórios (além das galerias de Arte, é claro…).
Todo Arte (Fotografia, Pintura, Teatro, Dança…) possui um significado inicial, intencionado por seu autor e perceptível pelos críticos, curadores, galeristas e apreciadores, enfim, os especialistas.
Outrossim, além do saber técnico, a Arte pode “tocar” o inconsciente do observador, que nela “projeta” aspectos de seu psiquismo, agregando um significante emocional que extrapola o simples apreciar.
A estética e conhecimentos técnicos das linguagens artísticas são pouco relevantes (na verdade, podem até dificultar…), quando o objetivo é o prazer lúdico da Experiência em Arte e o crescimento pessoal.
O que mais importa é o processo em si e o conteúdo pessoal/emocional que emerge das expressões artísticas.
Sequencialmente, publicarei aprofundamento de alguns destes tópicos, todos integrantes do Workshop Arte Em Terapia, que ministrarei neste dia 24/05/2018, na Saphira & Ventura Gallery – Reservas e inscrições: + 55 (11) 3061-2409 ou, diretamente neste link: https://www.sympla.com.br/workshop—a-arte-como-terapia__288400
Leia também:
Balanço comparativo: Slow Art x SP-Arte
Pierrots, Colombinas e Arlequinas – Carnaval, Arte e Psicanálise
Slow Movement: Desacelere, Viva Muito e Viva Bem!
Sobre o Autor:
Henrique Vieira Filho é artista plástico, escritor, jornalista e terapeuta holístico. Nas artes, é autodidata e seu estilo poderia ser classificado como surrealismo figurativo.
Por mais de 25 anos, esteve à frente da organização da Terapia Holística no Brasil, sendo presença constante nos meios de comunicação. Elaborou as normas técnicas e éticas da profissão, além de ser autor de dezenas de livros e centenas de artigos, que são adotados como referência em vários países.