Todas as Culturas devem ser compartilhadas: tenho o privilégio de usufruir igualmente das sabedorias milenares judaica-cristã, grego-romana, chinesa, japonesa, indiana, egípcia, indígena, africana e TODAS tem muito a nos ensinar.
Tais conhecimentos são preservados pelos séculos por meio de histórias, mitos, lendas, envolvendo personagens fascinantes e enredos profundos e cativantes, pois simbolizam padrões comuns a toda humanidade, aos quais o Psicanalista Carl Gustav Jung nominou “Arquétipos”.
A recente tragédia de Brumadinho remete a algumas das mais antigas passagens contadas no continente africano e igualmente transmitidas no Brasil: as disputas entre os deuses Nanã e Ogum.
Nanã é uma orixá feminina muito complexa, transitando entre os Arquétipos da Grande Mãe, do Ancião Sábio e da Morte.
Ela é quem se encarrega de reciclar a matéria por ocasião da morte: a volta ao barro, à argila da qual o ser humano foi moldado, libertando a lama das memórias da vida, para que possa ser matéria prima de novos renascimentos. Senhora das águas pluviais, defensora das tradições, independente, sábia, avessa à modernidade.
Por sua vez, Ogum personifica o Arquétipo do Guerreiro e é o senhor do metal, sem o qual os instrumentos “modernos” do caçador e heróis não existiriam.
Há mais de uma história de confrontos entre ambos, na vasta mitologia africana…
Em uma delas, Ogum, determinado em cumprir sua missão, segue irrefreável em seu caminho, sem se deter perante o pântano à sua frente.
A voz de Nanã o adverte que este território tem dono e ele deve respeito e pedir permissão para seguir adiante. O determinado guerreiro brada que não pede licença, e sim, conquista e avança, valendo-se de suas poderosas armas de metal. Sob o comando da anciã, por pouco o pântano deixou de tragar Ogum, que teve que lutar com toda sua força para escapar da lama.
“_ Você é poderoso, jovem e impetuoso, mas precisa aprender a respeitar as coisas” – ensina-lhe, Nanã…
Na recente tragédia em Brumadinho, pessoas em desequilíbrio com o Arquétipo do Guerreiro, violam a Natureza, em busca do metal para suas sagas modernas, sem a devida permissão e respeito aos limites ecológicos e técnicos.
Antes a lição/reação viesse de Nanã, que poderia ter sido mais condescendente…
Desta vez, não foi a Mãe Natureza que agiu: foi a própria lama da ganância e insensatez humana que transbordou, sem dó, nem piedade.
Henrique Vieira Filho é artista plástico, escritor, jornalista e psicanalista.
Sua experiência de décadas como terapeuta, em especial, com a Psicanálise Junguiana, lhe possibilita uma familiaridade ímpar com a mitologia e as imagens oníricas, sempre presentes em suas telas.
Justificadamente, a tragédia de Brumadinho ocupará o noticiário e nossas consciências por longo tempo, somando e reverberando as ocorridas em 2015.
A de Paris, a de Mariana e a de Brumadinho tem em comum o imensurável dano emocional das mortes e, como diferencial, que, na França, o terror foi de ação rápida e, no Brasil, o horror continua, pois repercutirá por séculos, senão, milênios de devastação ecológica.
E a Terapia Holística, como trabalha as perdas, o luto, as tragédias?
Teóricos classificam a morte em categorias, sendo que, um deles, Kovács, M.J., em sua obra “Educação para a Morte. Temas e Reflexões”, nos apresenta o que nominou de morte escancarada, via de regra, do tipo violenta, em guerras, tragédias, desastres e emergências, envolvendo a banalização da morte, com superexposição da mídia, o que tanto pode criar possibilidades de discussão, como tão somente gerar perplexidade e desconforto:
“A morte escancarada por ser inesperada não permite preparo prévio.
Envolve múltiplos fatores que podem dificultar a sua elaboração: perdas múltiplas (morte de várias pessoas da mesma família), perdas invertidas (filhos e netos que morrem antes de pais e avós), presença de corpos mutilados, desaparecimento de corpos e cenas de violência.” (Kovács)
Como complementação ao tópico acima, Philippe Ariès, nos apresenta outras classificações complementares de morte:
A “domada”, mais comum à Idade Média, onde morrer era um risco cotidiano, por doenças, ferimentos, e o temor maior era quanto à forma abrupta, que poderia impedir os rituais de despedida, como um evento familiar que incluía a espera no leito, o lamento pela vida, a evocação de pessoas e coisas amadas, o perdão e a absolvição sacramental. (Ariès, 2003).
A “interdita”, onde não era mais entendido como um fenômeno natural, sendo aplicada a “medicalização” da morte, quando os moribundos eram levados aos hospitais para morrer, lugar que era conveniente para esconder a repugnância e aspectos sórdidos ligados à doença. Dessa maneira, foi ficando mais comum a supressão do luto e das manifestações de dor. (Ariès, 2003)
E temos, ainda, a morte “reumanizada”, onde, ao invés da busca de a todo custo impedir ou adiar o falecimento, aplica-se a ortotanásia, onde se cuida para que a pessoa tenha uma morte digna, sem procedimentos que iriam somente prolongar a vida sem qualidade.
Independente de classificação, a morte é pauta em atendimentos de consultório, existindo até abordagens específicas, como a Terapia do Luto.
O processo de luto, quando bem vivenciado, facilita condições para uma adaptação à perda, despertando a disponibilidade para novos investimentos em sua vida, reorganização uma nova rotina para o dia a dia.
Mas, há fatores complicadores, conforme a circunstância do acontecimento do luto:
O “antecipatório”, quando, por exemplo, inicia desde o um diagnóstico de problemas de saúde incuráveis;
O “parental”, que envolve a morte de filho, também é chamada de “morte invertida” e costuma envolver sentimentos de culpa dos pais;
O “adiado”, acontece normalmente quando não há vivência imediata da perda, por diversos fatores e só ocorre muito tempo após o acontecimento;
O “inaceitável”, quando não há amparo social e/ou nas crenças e costumes, como por exemplo, mortes de animais, aborto, ou de amantes;
O “suspenso”, que ocorre em casos de ausência ou desaparecimento do corpo;
Complementando, e bem no contexto atual, há ainda o luto “coletivo”, com a sensação de perda disseminada por toda uma coletividade, como o que se gerou perante o ataque terrorista em Paris e a tragédia sócio-ambiental em Mariana.
Boa parte dos teóricos, para fins de facilitar o entendimento, descrevem o que chamam de “fases do luto”.
Klüber-Ross (1996) é talvez a referência mais citada, classificando em cinco fases do luto, que também se aplicavam as pessoas que vivenciavam outros tipos de perda:
“Negação”, quando a pessoa parece não acreditar que ocorreu a morte;
“Raiva”, marcado por sentimentos de revolta, ressentimento e até a atribuição de causa ou culpa para algo ou alguém;
“Barganha”, período em que ocorre uma espécie de negociação que possa mudar ou evitar a perda. É comum o apelo a entidades divinas e quaisquer crenças por meio de pactos ou promessas;
“Melancolia”, período de extrema tristeza, introspecção e isolamento;
“Aceitação”, que é a fase derradeira, mas que não significa o fim do sofrimento, mas um período em que a pessoa deixa de lutar contra a morte, a aceita e isso facilita o enfrentamento.
A Terapia Holística possui muitos instrumentos para que possamos atuar como mediadores, catalisadores do processo de luto.
Uma das vertentes mais procuradoras e bastante polêmica é a Terapia Comportamental, que propõe “tarefas” a serem executadas pelo Cliente, algo como um “passo a passo”, com prazos e metas.
Claro, sempre é tentador, tanto para a pessoa atendida, quanto para o Profissional, trabalhar dentro de uma expectativa de tempo e de resultados e, muitas vezes, é necessário, como, por exemplo, nos casos de pessoas que sejam arrimos emocionais e/ou financeiros dos demais, não sendo possível ficar sem a retomada de suas rotinas de vida.
Outrossim, devemos sempre ter em mente que obter resultados na alteração do comportamento (como, por exemplos, a pessoa cessar com os choros, volta a trabalhar, a cuidar dos filhos…), muitas vezes implica em estarmos adiando o contato com o sofrimento, ou, ainda pior, estarmos predispondo à somatização do trauma, o qual, não encontrando espaço para manifestar-se emocionalmente, passará ao corpo, em diferentes graus de seriedade.
Sempre que possível, devemos adotar a linha terapêutica humanista, onde não existe um roteiro ou prazo pré-estipulado, permanecendo a Terapia à disposição do Cliente, que levará o tempo que for necessário para conseguir lidar com a perda, redefinir os papéis e retomar sua vida, em sua nova forma.
Paralelamente aos métodos Psicoterápicos, podemos contar com as técnicas de equilíbrio energético de meridianos, de chakras e, é claro, a popular Terapia Floral, com seu vasto leque de essências, adequadas a cada etapa emocional de nossos Clientes.
Desde a consagrada composição do Rescue Remedy, que atua muito bem em momentos de grande variação emocional, até o ideal, que sempre é personalizar a escolha das essências, adequando ao exato momento vivenciado pelo Cliente, os Florais de Bach contam com longa tradicional de auxílio ao luto.
Esta pauta teria que ser aprofundada muito além do espaço destinado a este Artigo, razão pela qual, pretendo retomar e complementar este tema, em futuras oportunidades.
Por ora, que se registre a solidariedade de todos os Terapeutas Holísticos às vítimas, diretas e indiretas, deste trágico e recente acontecimento.
Que todos saibam que sempre terão, na Terapia Holística, mais um ponto de apoio para a harmonização em suas vidas.
Henrique Vieira Filho – Terapeuta Holístico – CRT 21001, é autor de diversos livros da profissão, ministra aulas na CEATH – Comunidade de Estudos Avançados em Terapia Holística.
Obras de Henrique Vieira Filho seguem direto da França para os EUA e, para ser ainda mais globalizante, as telas selecionadas homenageiam o Japão!
Com exposições sequenciais, antes na Galerie Artitude Art Contemporain (Paris – França) e no MIIT – Museo Internazionale Italia Arte (Turin – Itália), e, agora, na Saphira & Ventura Gallery (USA – New York), ainda assim, nosso Artista Henrique Vieira Filho mantém o ritmo no Brasil, com a “Cidades Divas No Divã“!
Pocket Exhibition “Cidades Divas No Divã” O Artista e Psicanalista Henrique Vieira Filho homenageia o aniversário de São Paulo com telas recém exposta em New York, Paris e Turin e crônicas! RSVP via Whatsapp: 11 93800-1262